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Experiência Berlim: um relato sobre a volta para casa

Voltar para casa depois de dois anos morando em Berlim foi uma das experiências mais fantásticas que passei na vida. Uma reviravolta de sentimentos e flashes de uma vida toda que surgiram após cruzar a linha do aeroporto de Guarulhos. O retrato da família esperando, o sorriso estampado no rosto de cada um e todos os detalhes que apenas quem sente saudades pode notar.

No primeiro momento tive a estranha sensação de que nunca tinha deixado São Paulo, que nunca tinha ficado um dia sequer longe da minha cidade. Entrar no meu (ex-) quarto e olhar aqueles livros, quadros, desenhos, foi como entrar num museu da minha própria vida. De fato, eu já não sou mais aquele garoto que morava ali, mas ao mesmo tempo, na essência, percebi que ainda tenho o espírito sonhador que um dia me levou à Berlim.

No olhar dos amigos e familiares notei que o tempo mantem os que são verdadeiros. A distância te ajuda a valorizar a presença e o afeto que você constrói durante a vida. Não só fortalece laços como também te abre os olhos sobre o real sentido do amor entre a família e os amigos.

O Brasil está passando por uma crise política muito pesada e, neste meio, tempo vi que muitas pessoas fecharam os olhos para ver que nosso país tem muitas coisas maravilhosas e passaram apenas a criticá-lo. Tive a oportunidade de visitar lugares fantásticos na cidade de São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro. Algo que nunca tinha feito antes, pois estava mais preocupado em viver dentro da bolha que tinha criado e não prestava atenção ao lado de fora.

Depois de começar a trabalhar com turismo na Alemanha desenvolvi um olhar crítico em relação ao assunto e no Brasil consegui ver um potencial enorme que não é explorado ou bem divulgado. O turismo feito de uma forma controlada e certa traz muitos benefícios para as cidades e representa muito para as economias locais.

Muitos amigos e conhecidos sempre utilizam a frase “Você fala isso, por que mora na Europa” quando eu faço algum comentário positivo ao Brasil. Talvez exista um excesso e uma ultraglamourização do “morar na Europa”. O que de fato me atrai na Europa é o baixo índice de violência, pois de resto, eu levo uma vida comum como quase todo mundo: lavo roupa, cozinho, faço faxina, encontro meus amigos no final de semana, continuo com toda uma rotina que eu também tinha no Brasil.

Durante esses últimos dois anos vi muitas pessoas que mudaram para a Europa com a ideia fixa de que suas vidas seriam maravilhosas após essa mudança. Não digo todos, mas a maioria teve suas expectativas quebradas. Quando me mudei, vim aberto para enfrentar uma nova cultura e aprender com isso. É óbvio que isso levou um certo tempo, principalmente quando você precisa aprender alemão desde o início, não tem amigos na cidade e nenhuma referência para te nortear. Isso pode ser doloroso no começo, mas se você não se expor à isso, você sempre estará em uma ilha solitária tentando sobreviver com suas raízes que dificilmente brotarão neste solo. Isso não quer dizer que você precisa agir e ser como um alemão. Muito pelo contrário! Você precisa entender como as coisas funcionam aqui e estar aberto ao modo de vida local, pois só desta forma você estará realmente inserido.

Logo quando cheguei ao Brasil fiz uma viagem para Curitiba com meus pais. Foi muito bacana e eu percebi que minha mãe queria fazer novas amizades no bar em que estávamos. No primeiro momento eu fiquei aborrecido, pois fazia dois anos que não estava com eles e queria toda atenção para mim. Porém logo percebi o quão egoísta estava sendo, pois não estava deixando minha própria mãe explorar e conhecer pessoas desta cidade. No final foi uma ótima experiência e conhecemos pessoas fantásticas que nos apresentaram o cotidiano curitibano. O que minha mãe fez foi exatamente o que precisei fazer em Berlim para que hoje eu pudesse me considerar um berlinense bem integrado.

A experiência de Berlim me fez entender o próximo e estar aberto para ouvir opiniões, que não necessariamente eu concorde, mas que eu passei a respeitar com o tempo. Depois desta estadia no Brasil percebi que o que mais aprendi nesses dois anos foi entender o ponto de vista dos outros sem julgar. A volta para casa é muito gratificante do ponto de vista de perceber o quanto você é amado e querido.

Você que já fez um intercâmbio ou morou fora, qual experiência que mais te marcou?

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