Férias na Alemanha? Combine estudos com diversão!
20 de outubro de 2016
O outono e as abóboras
27 de outubro de 2016
Exibir Tudo

Heimat: Berlim, meu novo lar

Berlim não é uma cidade óbvia. Somente quando me mudei para cá passei a entender aos poucos uma parte de toda sua complexidade. A partir daí, percebi que minha vida nunca mais seria a mesma… eu estava enfeitiçado, perplexo e apaixonado! Berlim era minha Neue Heimat, termo em alemão que define não apenas um novo lar, mas também o lugar em que você finalmente se encontra de corpo e alma.

Não escrevo este texto para simplesmente exaltar a cidade, mas para mostrar que a vida pode ser muito mais além do que a gente imagina; que um mundo de oportunidades existe e que tudo depende apenas de nós próprios. Durante diversos anos me privei de me conhecer de fato enquanto me trancava em um escritório, este no qual infelizmente pensamentos retrógrados eram disseminados. Uma vida engessada, que resumia-se a trabalho, trabalho e mais um pouco de trabalho. No pouco tempo que tinha para desfrutar com meus amigos e familiares, estava cansado, “só o pó”, como diria o meu velho pai. Não tinha forças para pensar de fato no que era melhor para mim. Tudo estava muito cinza.

No momento em que decidir dar um basta em tudo isso, não pensei duas vezes e parti rumo a uma nova vida em Berlim. E até hoje me pergunto: por que Berlim? Não é uma pergunta óbvia, pois não tenho ancestrais alemães, não falava a língua, não tinha um emprego garantido, nem amigos na cidade e, para enfatizar ainda mais minha indagação, quando estive por lá em 2012 não tinha me afeiçoado com a “vibe” do local. Era, sem dúvidas, um tiro no escuro. Como era de se esperar, os primeiros meses não foram fáceis. A adaptação inicial tomou muita energia e somente depois dessa primeira fase comecei a enxergar a cidade com outros olhos, pois no fundo sabia que nada era por acaso e, hoje, vejo claramente que esta foi uma das decisões mais sábias da minha vida. Uma vez aqui, não mais preso em meus ternos e gravatas antes convencionais, tive tempo para explorar a mim mesmo.

Foi um processo árduo e muito exaustivo, porém necessário, pelo qual acredito que todo mundo deveria passar. Desconstruir-me e testar-me foram duas das grandes armas que usei neste processo. Coloquei-me em situações nas quais eu não me exporia no meu país de origem. Estava aberto a novas pessoas e me recusei a entrar em “bolhas”, como as quais estava habituado a participar em São Paulo. Com isso, em Berlim encontrei diversas pessoas, com as quais compartilhei histórias. Tantos mundos em um só lugar: sobreviventes e refugiados das guerras nos Balcãs, artistas que não tinham vergonha de pintar a cara e fazer o show, baristas que sabem mais de arte que muitos curadores, figuras muito diferentes das com que eu convivia. Toda essa diversidade me ajudou a entender o que eu sentia falta no meu ser.

Por quantas vezes me vi lendo poesias às margens do Spree, observando os metrôs cortando o horizonte sobre a Oberbaumbrücke. Sentado nas escadas do ponto mais alto do Viktoriapark, correndo nas novas trilhas do Gleisdreieck. Dia-a-dia, do Rathaus Steglitz ao Wannsee. Eu nadei no Schlachtensee, eu sorri voltando às 4 da manhã num trem lotado do Rathaus Neuköln. Fugi dos ratinhos que estavam entre as folhagens do Tiergarten. Eu vi o Hertha levar 4 gols. Gastei minhas economias em Prenzlauer Berg, eu desci num tobogã na Potsdamer Platz. Eu vi o sol nascer às 5 da manhã do ônibus noturno no Hackescher Markt, eu despenquei da escadaria do Altes Museum. Comprei roupa de segunda-mão no Mauerpark. Tomei sorvete na frente do Palácio de Charlottenburg. Bebi meu Clube Mate no Badeschiff. Eu tive vida em Berlim. Eu me apaixonei em/por Berlim. “Ich bin glücklich”! Eu estou feliz aqui”

Seja na Alemanha ou qualquer outra cidade que você deseja morar, tenha em mente que o simples fato de mudar não lhe trará a sua felicidade instantânea, e que inclusive ela pode não vir. Tudo depende de como você se relaciona com a cidade, com os laços que você constrói. Pode parecer clichê, mas quanto mais verdadeiro você for com as pessoas, mais verdadeiro será consigo mesmo. E desta forma você poderá finalmente encontrar o seu real “ser”. Uma coisa que admiro em muitas pessoas aqui de Berlim e que aprendi direitinho, é a ser direto no que você diz e pensa. Enrolar os outros e ser desonesto não o levará a lugar nenhum, mentiras podem ferir e trazer consequências infelizes. Aprendi a ser verdadeiro e com isso a compartilhar mais amor. O mundo de fato precisa de mais amor.

Dê uma chance para você se descobrir, seja em Berlim, em Nova Délhi ou até mesmo na sua cidade. O meu equilíbrio veio quando percebi que eu fazia parte da cidade e que a cidade já fazia parte de mim. Berlim é a minha Neue Heimat, é aqui que encontrei a minha essência de ser. E você, já sabe onde é o seu Heimat?

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.